quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A obsessão do meu marido

O meu marido tem uma verdadeira obsessão por carros. Já sei, já sei, 90% dos homens gostam de carros. Mas o meu marido não gosta de carros. Ele é mesmo obcecado. Tanto, que a seguinte conversa já teve lugar:
- Naqueles dias que estou mesmo chateado com o trabalho e que já não posso ouvir os clientes, vou até à rua "não sei quê", ver o carro "não sei quantos" e fico logo mais calmo.
- WTF?!
Há pessoas que gostam de ir ver o mar, dar um passeio pelo bosque, comer chocolates, sei lá, mas nunca ouvi falar de alguém que se acalma a ver carros.
O meu marido conhece todos os modelos, de todas as marcas, de todos os anos. Quando estamos a ver televisão, mal um carro aparece no ecrã (e não estou a falar de aparecer o exterior do carro, pfff, será que ainda não viram a dimensão da coisa? Basta aparecer um banco, um volante, um retrovisor) ele grita: Mercedes SL 280, a gasolina, de 1976, por exemplo (foi o primeiro carro que me apareceu na busca do google e pareceu-me bonito o suficiente para ser um exemplo). Ora, isto poderia não me aborrecer nada, mas acontece que aborrece. É que ele podia viver isto tudo sozinho, viver esta maluqueira sem me arrastar, mas não. Durante muitos anos, fui fingindo que me interesso pelo assunto enquanto ele fala, mas na verdade, enquanto ia acenando com a cabeça e dizendo coisas do género "ai sim? Pois é. É muito bonito. Ah, realmente as outras jantes eram mais bonitas" a minha mente divagava, divagava... É que eu tenho um dom, o dom do modo piloto-automático. Sou capaz de estar horas com uma pessoa, conversar sobre os mais variados assuntos e não me lembrar absolutamente de nada do que eu ou a outra pessoa disse porque eu nunca estive lá. Quem esteve foi o piloto-automático. Ora dizia eu que durante algum tempo esta técnica funcionou. Mas, o meu marido, além de troloró é esperto e logo percebeu que eu não gosto de carros, não me interessam os modelos, se são a gasolina ou a gasóleo, se têm jantes 16 ou 18 ou...

ou...

ou...

... bem, eu gostava de dar mais exemplos, mas estes dois são os únicos que o piloto automático me deixa lembrar.
Nós zangamo-nos pouco. Gostamos um do outro, a vida corre e não arranjamos sarra para nos coçarmos. Mas, os carros, ai os carros. O homem cisma que se é um grande interesse para ele eu também deveria esforçar-me para gostar. Que quando eu falo de pêlos encravados, varizes ou da roupa da Zara ele também me ouve. E pensam vocês "ah, isso é ele que também liga o piloto-automático". Mentira. Eu posso falar do que quiser, passam quatro anos e o gajo lembra-se. Assim fica muito difícil.
Acho que o melhor é eu voltar para o google e começar a saber o que são cilindros e...

e...

Bosta, nem sei mais o que hei-de pesquisar. O melhor a fazer é dar-lhe logo a Taça de Conjuge Perfeito, pela qual me ando a debater há nove anos.    

1 comentário:

disse...

Bem, eu sou da opinião que se não temos qualquer interesse num determinado assunto não temos de "encaixa-lo" só por causa do outro. O meu marido adora física, astronomia e eu não percebo patavina. Ouço-o, tento entender (se estiver para aí virada) e vejo programas com ele. Mas debruçar-me sobre o assunto só para lhe fazer a vontade, não. Não nasci com queda para isso por muito que tente não dá! Por isso, podes sempre ouvir, acompanhar, etc mas ele tem que compreender que não é essa a tua área e não é por isso que o amor vai deixar de existir. Boa paciência:)