sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Um homem não chora

A igreja está cheia. Amigos abraçam o meu pai e dizem os meus sentimentos. Ele sorri como quem pede para não o abraçarem, não o mimarem, está tudo bem, obrigado. Depois da missa, a despedida. O meu pai aproxima-se, beija a mãe, rápida e friamente, e retorna ao seu lugar. Alguém lhe pergunta posso fechar, sim, pode. Caminhamos até ao cemítério, um cortejo silencioso, dolorosamente silencioso. Os carros vão parando, não há sons de buzinas e nem de conversas no meio da rua. Todos se calam em sinal de respeito e curiosidade em ver quem está, se sofrem, se choram. Vou olhando para o meu pai, que caminha firmemente atrás do carro funerário, e pensando que em 32 anos nunca o vi chorar. Muito antes do meu marido e da minha filha, era ele o amor da minha vida, um pilar, uma segurança, uma força, um colo. Ao contrário da minha mãe, com quem tantas e tantas vezes inverti e inverto os papéis, o meu pai sempre foi um pai, na maior amplitude que esta palavra pode ter. Sempre foi ele o que cuida e nunca inspirou cuidados. Por isso, esta fragilidade era nova para mim, mas também era nova para ele. Enterramos a mãe do meu pai, voltamos a pé para a igreja e vamos tomar um café, só os dois. Encontramos duas alunas antigas que me dizem o seu pai é o máximo. Pois é.  

1 comentário:

apessoa disse...

Na falta de saber o que mais fazer, deixo aqui um beijinho de conforto, mas fico arrepiada com a capacidade que tens para escrever... Até nestas alturas