terça-feira, 13 de novembro de 2012

Conheci muito pouco de ti. Sei que o teu prato preferido era bife com batatas fritas, gostavas de vinho tinto, só andavas de saia, sentavas-te sempre na ponta do sofá, quase a cair, enquanto assistias à Fátima Lopes pensando que vias a Júlia Pinheiro. Lembro-me das Páscoas, sempre na tua casa, com ovos cozidos que o meu irmão fazia questão de partir na minha cabeça, azeitonas e salpicão. Pensar que era muito injusto as minhas primas e o meu irmão receberem os mesmos chocolates quando eu, além de neta, era também afilhada. Os gatos, às dezenas, que alimentavas todos os dias no quintal. Não eras uma mãe meiga e presente e, certamente, também não foste uma avó dedicada, daquelas que sentam os netos no colo, os convidam para almoçar e dão beijos remelados nas bochechas. A única herança que me deixas é o vício pelas bolachas. Em todas as visitas ias à despensa e oferecias-me um pacote, às vezes às escondidas dos meus pais, que se zangavam por eu perder o apetite. Até ao último dia andaste com bolachas no avental, afirmando sempre que não era por comê-las todo o dia que estavas mais gorda.
Hoje desapareceste e deixas húmidos os olhos do meu pai. Nunca os tinha visto assim. E, por ele, ficam tristes os meus também.

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