quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Um homem também chora

Eu poderia escrever um texto com palavras bonitas, suaves, mostrando a emotividade que está a transbordar a minha alma. Mas não o vou fazer. Estou indignada com a vida, com o destino, com o que preferirem chamar, e não são palavras bonitas que me apetecem dizer ou escrever. Uma semana depois de enterrar a mãe do meu pai, volto a estar num funeral. O sobrinho do meu sogro e primo do amor da minha vida foi vencido por aquela doença que, quando se morre dela, se diz ser prolongada.
Vejo o meu sogro, um segundo pai para mim, e não, não são só palavras de circunstância, pela primeira vez a chorar. Vejo o amor da minha vida, a minha pessoa, o meu amigo, a confortá-lo num gesto quase desajeitado de quem não está habituado a mimar o pai. Os nossos corações apertam-se, mas as lágrimas são contidas. Tanto eu como o meu marido partilhamos da convicção que as emoções são mostradas um ao outro, sem mais espectadores. Mais à noite vou buscar a minha filha e ela pede-me para pôr a sua música preferida. Acedo. Ai, ai, ai, assim você mata o papai. Ironia do destino. O que fazer. Rio-me com o sentido de humor de Deus, seco as lágrimas que escorreram teimosamente, puro cansaço emocional, e canto com ela:
Vem cá mulher,
Vem cá,dançar,
Comigo agarradinho, vem cá que você vai gostar!
Ah, vai! Isso, assim, vem pra mim
Que delicia, tá gostoso demais
Isso não vai prestar
Beija minha boca

 
Marido, sogrão, bola para a frente que atrás vem gente. Vamos fazer um manguito à morte, que tem visitado as nossas famílias, e cantar com a nossa pequena:
Ai, ai! Ai ai ai ai! Assim você mata o papai
Ai, ai! Ai ai! Que boca gostosa eu quero mais
Ai, ai! Ai ai ai ai! Assim você mata o papai
Ai, ai! Ai ai! Você tá cheirosa demais

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