quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Do dormir e da intimidade

As noites vão passar devagar. Vou acordar três ou quatro vezes. Estranho a falta do teu corpo, do toque e do calor da tua pele, da tua respiração. Sempre foi um sacrifício para mim partilhar a cama. Em criança recusava quando as amigas me convidavam para passar a noite na casa delas. Nunca percebi o obectivo da coisa. Afinal, dormir com alguém exige intimidade. Ressonamos, soltamos gases e acordamos com mau hálito, cara amassada e cabelo de leão. Nas novelas e nos filmes assim que acordam os actores e as atrizes atiram-se para a boca uns dos outros. Na vida real isso não é possível, todos o sabemos. É impensável alguém colocar a sua língua ou receber a de outra pessoa logo de manhã sem escovar os dentes. Por todos estes motivos e muitos outros, dividir a cama com alguém sempre foi um sacrifício para mim. Mesmo quando começamos a passar as noites juntos, confesso que também estranhei. Mas hoje, ai hoje... Gosto dos rituais antes de adormecermos, do dizer sempre até amanhã, do beijo, do abraço, dá-me só mais um, já chega, tenho sono, que chata. Gosto das manhãs, tentas sempre acordar-me lentamente, mas vendo que nunca resulta aumentas o som da televisão. Mais um bom dia, mais um abraço, beijo não, cruzes, coitado de ti, resmungo até ao chuveiro, água a 37 graus e bom trabalho. As noites vão passar devagar e as manhãs só vão fazer sentido porque serão sinal que o teu regresso está mais perto.