quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Fui mãe aos vinte anos. Engravidei no segundo ano da faculdade. Eu estudava numa cidade diferente, tinha amigos novos e os meus pais, finalmente, tinham começado a deixar-me sair à noite. A vida corria-me bem. Não, não fui nenhuma menina rebelde que, assim que alcançou um pouco de liberdade, desatou a esfregar-se em tudo o que era rapaz e a apanhar grandes bebedeiras. Nada disso. Tive dois namorados, um dos quais o meu marido, e as tão famosas "curtes" do meu tempo não eram para mim. Sempre fui muito ajuízada, excepto uma vez. Engravidei e, a partir desse momento, acabaram as saídas à noite, os jantares, o cinema, os concertos, os amigos. Sem nada em comum com os rapazes e raparigas de vinte anos, que não sabiam quais as melhores fraldas, o melhor leite em pó, que não se levantavam dez vezes de noite e, principalmente, eram livres para serem irresponsáveis, tal como a idade assim o permite, vivi alguns anos isolada emocionalmente, com um amor gigantesco pela minha filha e nem por um segundo arrependida de a ter tido. Posso dizer, e digo-o com muito orgulho, que assumi em pleno as minhas responsabilidades de mãe. Não a deixava com os meus pais por nada, custava-me horrores afastar-me para ir fazer os exames à faculdade e, aos vinte anos, era uma mulher de trinta.
E agora, nos trintas, sinto-me uma menina de vinte. A minha filha está linda, é feliz, está a entrar na adolescência e na fase da parvalheira. Gostamos das mesmas roupas, das mesmas lojas, das mesmas músicas, dos mesmos programas de televisão. Não somos amigas, que nunca acreditei nessa história. Somos mãe e filha, mas com mais coisas em comum do que, penso eu, a maior parte das mães e das filhas. Sou casada, mas o nosso relacionamento de dez anos é o de dois namorados, sempre aos beijinhos, abraços, telefonemas e mensagens. Os três fazemos uma família bonita e somos todos apaixonados uns pelos outros.
Talvez por ter invertido as fases na vida de uma mulher, o meu relógio biológico tenha empancado. Sei o que é ser mãe de um recém-nascido. Não é pêra doce. Ele (o relógio) tem um ano para dar o ar da sua graça. Vamos ver se resolve aparecer.

1 comentário:

apessoa disse...

Tirando (esse) final feliz, esta história podia ser a minha
Também fui mãe aos vinte, a vida também me corria bem e também não fui nenhuma menina rebelde que com liberdade se tenha andado a esfregar em tudo o que era rapaz ou a apanhar bebedeiras. Também sempre fui ajuizada, excepto quando me esqueci que a gravidez não acontecia só às outras. Também digo com muito orgulho que assumi em pleno as minhas responsabilidades de mãe
O meu filho está (é) lindo e feliz, embora não tenhamos exactamente os mesmos gostos conciliamos as coisas de forma a poderem agradar-nos assim... E é por tanta semelhança que gosto de seguir as tuas histórias e vir aqui de vez em quando deixar-te um beijinho