terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ontem tirei um siso. Diziam-me que seria horrível, que me ia doer, que alguém emagreceu dez quilos depois de arrancar o dente e piu piu piu, lai lai lai. Não me doeu absolutamente nada. A "operação" deve ter demorado uns três minutos e quinze depois estava a comer uma nata. Acho que, de todos os meus inúmeros atributos, aquele que me causa mais orgulho é a minha não pieguice. Considero-me uma mulher forte. Já rachei a cabeça, já cortei um dedo, já fui operada a esse mesmo dedo, já fiz uma cesariana, já caí dezenas de vezes, já dei injecções a mim própria. Em todas estas situações - e mais algumas - não verti uma lágrima, não me queixei. Sou a pessoa mais preguiçosa e mimalha do mundo, mas quando preciso ficar quieta por motivos de saúde, tenho vontade de fazer tudo, mostrar que não preciso da ajuda de ninguém. Esta característica tem crescido ao longo dos últimos anos. Digamos que, em termos de não pieguice, eu estou no Pólo Norte e a minha filha está no Pólo Sul. E parece que, quanto mais eu tento mostrar-lhe que, quando há alguma coisa a fazer - seja tomar um comprimido, seja levar uma vacina, seja fazer análises - o melhor é fazer logo de uma vez para acabar rapidamente com o suposto sofrimento, mais ela fica piegas. Com oito anos pesava 25 quilos, acho que isto diz muito acerca da sua massa corporal, e eu e dois enfermeiros não a conseguíamos segurar para colocar-lhe soro. Teve que vir também o médico, que a segurou nas pernas, para que um dos enfermeiros conseguisse enfiar-lhe a agulha. Qual a minha atitude quando estas situações acontecem e ela grita a plenos pulmões no meio das urgências que se eu deixar que lhe enfiem a agulha eu deixo de ser mãe dela e que nunca mais fala para mim? Muito simples. Mando-a calar, digo-lhe que tem de ser para o bem dela e seguro-a forte nos braços. No meio da crise mantenho a calma. Alguém tem de o fazer. O meu marido derrete-se todo e, por ele, sairíamos do hospital sem enfiar a porcaria da agulha, afinal se calhar nem é preciso, coitadinha, já está melhor, vês. Ser a má da fita é, nestes casos, ser a boa da fita. Pois se não faço "aquela" cara, que eles tão bem conhecem e respeitam, ela continuaria a jorrar sangue novamente até casa, como daquela vez que se cortou e precisou levar pontos. No meio da crise, a calma. No dia seguinte, a enxaqueca.    

1 comentário:

Anónimo disse...

É a descarga da adrenalina, a enxaqueca :) já passei por uma ou duas situações muito complicadas relacionadas com o bem estar dos que amo e nos dias a seguir acordei com a cara mais estranha do mundo, olhos sempre inchados, exaurida... quando já ninguém se lembra, quando já passou, é que me dá o baque. Porque na hora H alguém tem de se aguentar...